O caso da Rosa

Num quintal havia dois jardins, um era da filha do advogado Bernardes, o outro era do filho do jardineiro Joaquim. A distribuição das duas partes se deu no dia em que o jardineiro morreu; Bernardes queria recompensar de alguma forma e pensou em dividir o seu quintal para que o filho do falecido tivesse como se lembrar de bons momentos juntos com o pai e assim amenizar sua dor.

Passaram-se cinco anos. O menino, que outrora tinha doze anos de idade, agora se torna rapaz e trabalha como jardineiro para Bernardes. Era difícil compreender naquele momento a dor de se perder um pai; foi então que Bernardes resolveu ter um diálogo com o jovem. Ao descer as escadas da bela casa, Bernardes hesitou em falar (isso porque não sabia o que falar para o filho de Joaquim, seu amigo); entretanto, tomou forças e em passos ávidos se dirigiu até ele:

--- Posso conversar com você um momento, meu jovem? Disse Bernardes com um sorriso sôfrego no rosto a acenar para seu escritório.

--- Sim senhor Bernardes, eu também queria falar com o senhor! Os dois subiram ao escritório. A esposa do advogado estava ao lado da filha na sala. A mãe da jovem conversava, intercalando olhares com a filha para os dois que subiam depressa.

Eles entram no escritório. Bernardes, gentilmente, pede que o jovem se sente, olhando diretamente em seus olhos, com receio do que ele teria para dizer.

--- Bom caro amigo, você bem sabe que eu e Joaquim tínhamos uma amizade muito grande, nós, na verdade, te criamos, sustentamos e seu pai foi responsável pela sua educação. Ontem estava a pensar sobre o que dizer à você, depois de cinco anos...é - Fez uma pausa e percebeu que ainda não sabia o nome do rapaz - Desculpe-me a falta de atenção, mas como é mesmo seu nome? Perguntou com os lábios entreabertos. O rapaz não respondeu de imediato, mas encurvou-se e começou a chorar; Bernardes ficou estarrecido, pegou alguns lenços de sua mesa e lho entregou, o rapaz chora como uma verdadeira criança quando não consegue ou é interrompido a alcançar seu objetivo.

--- O que você tem meu querido rapaz? Bernardes tenta entender, mas é frustrante sua intenção. O rapaz começa a falar com aspereza seu discurso.

--- Tenho tantas coisas para te dizer, - disse o jovem a soluçar - não sei onde começar as minhas lamurias e culpas perante o senhor!

--- Comece, meu caro, pelas coisas que achar por bem.

--- Primeiro meu nome é Cláudio, contudo tenho uma repulsa por este nome, pois não sou digno dele. Meu pai sempre me amou, cuidou de mim, me ensinava tantos princípios de vida que nem sei como ou onde ele aprendeu tudo aquilo; ele falava muito no senhor como um dos maiores professores que ele já tivera oportunidade de conversar, - Abriu um sorriso leve - sua vida foi uma inspiração para mim, mas não sabia como utilizar isso no meu dia-a-dia; então numa tarde muito ensolarada comecei a admirar as flores no jardim de sua filha...ela...estava a regar as flores...admirei mais, com todo respeito, a beleza dela. Mas chegou um homem alto, franzino e que chamava muito a atenção de sua filha - Cláudio abaixou a cabeça e voltou a chorar.

--- Mas, o que aconteceu depois disso Cláudio, não me deixes com esta amargura no meu coração! Exclamou o senhor Bernardes.

--- Os dois se retiraram do jardim para um lugar secreto próximo a entrada ao porão, eles se encontravam ali há dois anos. Eu estava tremendamente apaixonado por sua filha senhor Bernardes, mas não conseguia dizer à ela, - começava a soluçar, percebeu que o senhor Bernardes estava muito nervoso - foi algo que me arrebatou. Logo depois do encontro dos dois amantes...é...segui o homem para ver onde morava...então...não posso continuar senhor, me desculpe. Cláudio saiu do escritório sem cerimônias, passou entre as duas damas que estavam na sala sem dizer uma palavra, entrou no jardim da filha de Bernardes, pegou uma rosa, a que mais lhe satisfazia desde seu amor absurdo pela moça; novamente entra na sala da casa do advogado, beija a rosa e entrega para Orquídia (nome que criara para a moça, já que não tinha a coragem de dizer palavra alguma à ela).

O senhor Bernardes chega até eles e num gesto frio e preocupante diz:

--- Nunca pensei que ainda existiria um amor assim, - Começa a chorar, um choro de vingança inalcançada e abraça sua esposa com toda força - nunca pensei que o meu próprio irmão faria isso comigo.

Cláudio sai da sala. Dez minutos depois ouve-se um estalido. Todos saem da casa e encontram o jovem deitado no jardim de Orquídia, filha de Bernardes, morto.


Por Elionai Dutra (especialmente para o Blog CEWP).

Comentários

  1. Hey ! Adorei o seu blog, principalmente esse texto e os seus poemas, são lindos. ;*

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  2. Olá!!

    Muito obrigado!

    Entre também neste blog: www.casadosestudanteswp.blogspot.com

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